terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Herdeiros devem receber R$ 12 tri

Julio Wiziack

Quantia será girada até 2019 em sucessões empresariais, diz estudo; 45% das empresas têm
programas

Fundada há 37 anos, a Arezzo, uma das marcas de calçados mais importantes do país, dará um passo perigoso para a maior parte das empresas familiares: fará a sucessão do fundador. Estima-se que 70% das companhias fechadas cheguem ao fim por não realizarem essa passagem de forma planejada. Não é o caso da Arezzo. Há duas décadas, Anderson Birman, 54, prepara-se para esse momento. Recentemente, ele contratou o escritório de advocacia Velloza, Girotto e Lindenbojm para finalizar o processo.

"Decidi comprar a parte do meu irmão, fundir a Arezzo com a Schutz, fundada pelo meu filho Alexandre, e vender 25% para o grupo de investimentos Tarpon", diz Birman. Essa operação, de cerca de R$ 300 milhões, foi concluída em novembro de 2007.

A Folha apurou que, no segundo semestre de 2010, Birman passará o comando a Alexandre,
atual vice-presidente, e ao representante do Tarpon Investment Group. Será uma copresidéncia. Se a crise financeira agravar-se em 2009, a sucessão será adiada em alguns meses.

Birman deixa a Arezzo para fazer um curso de um ano nos Estados Unidos, onde estudará inglês e marketing digital. Na volta, assumirá a presidência do conselho, e Alexandre, a presidência da companhia, tendo como vice o representante do Tarpon. Birman ficará com as funções de planejamento dfi longo prazo.

Um levantamento feito pelo Núcleo de Estudos de Empresas Familiares da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) mostra que 45% das companhias fechadas já têm ou estão implementando programas sucessórios. Nesse processo, Eduardo Najjar e Pedro Adachi, professores da ESPM, estimam que serão transferidos aos herdeiros até R$ 12 trilhões em ativos até 2019. "É um movimento que indica a profissionalização das empresas", diz Najjar. "Isso exige governança corporativa, o que significa definir regras para as gerações ou para os futuros acionistas."

Diretor-geral da rede de supermercados Enxuto, Bruno Bragancini Jr., 37, previa um destino negativo ao grupo criado há 37 anos pelo tio, em Campinas, no interior de São Paulo. Treze acionistas (entre irmãos, filhos e amigos do tio) controlam a empresa, mas apenas cinco estão no ofício. Até 2005, cada uma das sete lojas era administrada independentemente por seu próprio diretor, também acionista.

"A economia mudou e tivemos de centralizar, fazendo compras volumosas de uma só vez para ganharmos no preço", diz Bragancini Jr. Então começaram os conflitos. O alarme soou há três anos, com as quedas de 20% no faturamento e de 80% da lucratividade. Em um ano, R$ 30 milhões deixaram de entrar no caixa.

"Naquele momento, contratei uma consultoria para definir as regras aos herdeiros", diz Bragancini Jr. "Hoje, só primos, são 30. Há ainda integrantes de outras famílias no grupo. No total, somos 90."

O planejamento durou três anos e culminou em um código de ética, um novo estatuto e na criação do Conselho de Administração, para onde foram transferidos quatro dos diretores mais antigos. Os herdeiros mais jovens passaram por um treinamento até entenderem o papel de um acionista.

"Eles perceberam que a empresa não vingaria se todos decidissem pegar produtos nos nossos supermercados sem passar pelo caixa." Resultado: o grupo voltou a expandir as receitas e o lucro pretende abrir uma loja a cada dois anos com investimentos próprios.

Novo mercado

Os escritórios de advocacia são os primeiros a ganhar com a mudança de cultura dessas firmas. "Em 90% dos casos, os empresários chegam com problemas entre herdeiros antes da sucessão," diz Alexandre Lindenbojm, sócio do Velloza, Girotto & Lindenbojm Advogados Associados.

Ainda segundo ele, nos últimos três anos a procura aumentou tanto que fez surgir uma nova unidade de negócio. "Cerca de 9% do faturamento do escritório já vem daí", diz Lindenbojm, que cuida de clientes cujo patrimônio passa de R$ 30 milhões. A taxa média do serviço cobrado pelos grandes escritórios é de 1% do total do patrimônio do cliente. Outro estímulo veio dos bancos que administram fortunas no país. Embora alguns tenham criado sua própria estrutura, a maioria decidiu se associar às principais bancas advocatícias.

"Em 2000, eram raros os escritórios com esse tipo de as-sessoria", diz Mariana Oiticica, chefe de gerenciamento patrimonial do UBS Pactuai. "Hoje, há diversos em nossa lista, de grande e até médio portes." Segundo Cristiane Sultani, superintendente do Family Wealth Services do Itaú, esse tipo de serviço também aprofunda a relação com o cliente, garantindo receita ao banco no longo prazo. "Um cliente com mais de R$ 50 milhões aplicados costuma ficar, em média, sete nos
no banco. Com um serviço mais sofisticado, incluindo o planejamento sucessório, ele fica 21 anos."

Nenhum comentário:

Postar um comentário



MacroTransição
Rua Dr. Guilherme Bannitz, 126 – cj. 21 - CEP 04532-060
Itaim Bibi – São Paulo