segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Isto é dinheiro - A saga de duas famílias

A saga de duas famíliasA venda da Santelisa para o grupo Dreyfus simboliza o fim de uma dinastia brasileira e a força de uma família francesa, que quer se perpetuar no etanol

Maurílio Biagi, o patriarca, construiu no interior de São Paulo o maior império do etanol no País. Erros e conflitos familiares selaram o fim da companhia

Robert Dreyfus, ex-presidente, deixou o controle da companhia para um membro de fora da família e proibiu a venda de 51% das ações por 99 anos


Durante décadas, a família Biagi foi sinônimo de etanol no Brasil. Filho de imigrantes italianos, Maurílio Biagi (1914-1978) construiu algumas das primeiras usinas de açúcar e álcool do País, e seus filhos se tornaram os reis de Ribeirão Preto. Do outro lado do Atlântico, em Paris, uma outra família, a dos banqueiros judeus Dreyfus, construiu uma reputação de sucesso empresarial e esteve também no centro de uma das maiores polêmicas da história da França - em 1898, a perseguição ao capitão Alfred Dreyfus inspirou o escritor Émile Zola a escrever o texto jornalístico mais conhecido de todos os tempos, o célebre J'accuse. Na semana passada, a história dessas duas famílias se misturou. A Dreyfus assumiu o controle da Santelisa Vale, que pertencia aos Biagi, e se tornou controladora do segundo maior grupo sucroalcooleiro do País.


"Nosso sentimento é de frustração", disse à DINHEIRO André Biagi, um dos excontroladores da companhia. "Essa venda foi a saída menos traumática."
Claramente, o que se vê nesse desenho é uma família derrotada e uma outra vencedora. "Em empresas familiares, sucessão é a maior causa de morte". Isso vale para os Biagi, mas não para os Dreyfus. Enquanto os brasileiros se desintegraram, os franceses são donos da mais antiga empresa familiar do mundo, com 150 anos de vida, faturamento de US$ 39 bilhões e 26,7 mil funcionários. E querem continuar assim por muito tempo. Pouco antes de morrer, há seis meses, o ex-presidente Robert Louis- Dreyfus constituiu um trust, que passou a gerir as ações de controle. Na família Dreyfus, de fato, negócio e família não se misturam.
Robert deixou 51% das ações da empresa sob o controle de Jacques Veyrat, um executivo da LDC. O trust desenhado pelo ex-presidente - que congela as ações pelos próximos 99 anos - não garante a perpetuação da prosperidade do clã. No entanto, deixa para a família o recado de que pelo próximo século a venda da empresa não será a solução de problemas. Apenas os dividendos poderão ser divididos entre a viúva e seus filhos. Entre os Biagi, o começo do fim teve origem em 2006. Rubens Ometto, controlador da Cosan, fez uma oferta de compra da Vale do Rosário. As famílias Biagi e Junqueira, no contra-ataque, fundiram a companhia com a Santa Elisa, tomando mais de US$ 800 milhões no mercado. Depois, eles pretendiam lançar ações da nova empresa para levantar recursos. Conflitos atrapalharam a abertura de capital e o endividamento explodiu. "Fomos induzidos ao erro por acreditar que o futuro dos combustíveis estava no etanol", reconheceu André Biagi. Pressionados por uma dívida de R$ 3 bilhões - seis vezes o faturamento -, os Biagi se viram obrigados a vender a Santelisa para a Louis Dreyfus Commodities. Era o fim de uma dinastia e a consolidação de outra. E, sob novo comando, a usina passou a se chamar LDC SEV e se tornou uma companhia de R$ 8 bilhões e capacidade de processar 40 milhões de toneladas de cana. "Vamos, agora, em busca da liderança", resumiu o CEO do grupo no Brasil, Bruno Melcher

Um comentário:

  1. Estruturar as relações da empresa, e da família, constitui-se uma obrigação dos familiares controladores do patrimônio.
    É uma regra... traçada pela vida. Não está nos manuais de administração, nem em manuscritos legados como guia de conduta, por empresários ou estudiosos do tema Empresas Familiares.
    A experiência mostra, infelizmente, que a maior parte das famílias empresárias não seguem este preceito; com isto, o destino de suas empresas/seu patrimônio passa a fazer parte das estatísticas mundiais que indicam o insucesso - na 2ª. e 3ª. gerações - de patrimônios familiares cuja administração não atentou para o cuidado da interferência dos problemas familiares, na condução das empresas das famílias
    Nada é dito, na notícia veiculada, a respeito dos valores envolvidos na transação Certamente houve perda de patrimônio para que a negociação tivesse chegado a bom termo. A diferença entre o valor do patrimônio vendido em situação de “céu de brigadeiro” e do patrimônio vendido como “saída menos traumática” como diz um dos familiares é de , aproximadamente 20% a menos, do que o valor real.

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