Vera Saavedra Durão
Mais uma vez a divisão da família Geyer, que controla a Quattor, coloca em risco um grande negócio na área petroquímica. A herdeira Joanita Geyer entrou na Justiça do Rio de Janeiro com processo para suspender a operação de compra da Quattor pela Braskem, transação que vem sendo estimulada pela Petrobras.
Em 2007, um racha entre os cinco herdeiros do já falecido Paulo Fontainha Geyer na disputa pelo controle da holding Vila Velha, que abriga os bens familiares, quase pôs a perder a criação da Quattor, controlada pela Unipar, a holding do grupo.
A ação ordinária com pedido de liminar deve ser julgada entre hoje e amanhã pela juíza Márcia Carvalho, da 2ª Vara Empresarial do Rio, conforme informou fonte envolvida na causa. A juíza, que apreciará o caso, vai decidir se acata ou não a liminar solicitada em ação impetrada pelo advogado Roberto Teixeira, do escritório Teixeira Martins & Advogados. Procurado, Teixeira informou através de sua assessoria que só poderá se pronunciar depois da decisão da juíza.
O processo tem como réus três irmãs de Joanita - Maria, Vera e Cecília (mãe de Frank Geyer, presidente do conselho de administração da Quattor, que também é curador dela, que é doente) -, a holding Vila Velha e as empresas Braskem, Petrobras e sua subsidiária Petroquisa. Todos já estão se movimentando para recorrer, caso a Justiça acate a ação de Joanita. Procurados, os réus disseram não terem sido notificados do processo e que só souberam do assunto por notícias de jornais.
A herdeira está pedindo que haja abstenção por parte dos controladores da Quattor de qualquer negociação envolvendo a transferência da companhia para a Braskem e Petrobras - inclusive a suspensão do voto em assembleia.
Principal responsável pela articulação da formação da Quattor (fusão de ativos petroquímicos do Sudeste), Frank Geyer, sobrinho de Joanita, junto com as tias Maria e Vera, além de sua mãe Cecília, citadas como rés no processo aberto no dia 30 de setembro, controlam a Vila Velha e a Unipar. Eles são favoráveis à combinação de seus ativos à Braskem, mesmo que venham perder o controle do negócio.
Com a inclusão de suas três irmãs como rés da ação, Joanita acendeu a velha disputa familiar, interrompendo uma trégua de dois anos entre os cinco herdeiros, depois da feroz batalha pelo controle da Vila Velha, em 2007. Na ocasião, houve um racha na briga pelo poder na holding.
Joanita e seu irmão Alberto Soares de Sampaio Geyer foram derrotados nesta briga por Maria, Vera, Cecília e Frank. O conflito se acirrou às vésperas de a Unipar fechar a negociação com a Petrobras para se tornar controladora da Quattor.
Para evitar um desgaste público na imagem da Unipar, o acerto final entre os herdeiros foram feitos por intermédio dos advogados. Vera, Maria, Cecília e Frank assumiram o comando da Vila Velha com 57,75% do capital, contra 42,25% de Alberto e Joanita. Um acordo de acionistas foi firmado entre os três garantindo 25 anos de mandato na sociedade de capital fechado. A presidência da holding foi ocupada por Maria, por indicação de sua mãe Maria Cecília Soares Sampaio Geyer, viúva de Paulo Geyer. Vera tornou-se vice e Frank, diretor. Alberto e Joanita, minoritários, ficaram sem cargo.
A Vila Velha detém quase 60% do capital ordinário da Unipar e 19,7% do seu capital total. A Unipar, por sua vez, controla a Quattor com 60%, tendo a Petrobras como sócia com 40%. Joanita e Alberto, que já foi presidente do conselho de administração da Unipar, sendo substituído no cargo por seu sobrinho Frank, também são minoritários na Quattor, com participação indireta de cerca de 2% cada um.
O Valor apurou que os controladores da Vila Velha foram surpreendidos com a ação impetrada por Joanita. Mas, segundo interlocutores, não vão abrir mão do direito de comandar osnegócios da família dentro do que entendem como "melhor para todos". E, no caso, consideram o projeto de consolidação com a Braskem bom para todos os acionistas, inclusive os minoritários da Quattor. A iniciativa de Joanita, se tiver sucesso, causa preocupação porque pode atrasar a operação de uma eventual fusão e gerar prejuízo à Unipar. Se isso acontecer, os 11 mil acionistas da empresa poderão mover contra ela uma ação de perdas e danos, informou uma fonte.
A Quattor está numa encruzilhada. Com uma dívida de R$ 6,8 bilhões, consolidada a partir dos ativos que deram origem à empresa, a geração de caixa é considerada insuficiente por analistas financeiros para quitar seu passivo de longo prazo. A petroquímica só está concluindo agora investimento de R$ 2,3 bilhões em expansão, após ter estourado o orçamento e atrasado o início de operação em dois anos. Um acordo combinado com os ativos da Braskem é visto pelos analistas como uma forma de salvamento da Quattor.
Mas a possibilidade de fusão das operações gera apreensão em razão da criação de um único produtor nacional para abastecer mais de 10 mil empresas transformadoras de plásticas, muitas delas grandes geradoras de empregos, porém com pouco poder de barganha na negociação de preços com a petroquímica. Embora a orientação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em mais de dez operações petroquímicas avaliadas pelo tribunal é que o mercado relevante é global, e não o local, o maior temor dos defensores da fusão entre Braskem e Quattor é que a tarifa importação das resinas plásticas seja zerada. Hoje, oscila entre 14% e 16%.
Valor Econômico, São Paulo, 5 out. 2009, Empresas & Tecnologia, p. B8.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
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