quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A CRISE TERÁ O CONDÃO DE UNIR A FAMÍLIA EM TORNO DO NEGÓCIO ?

Mais uma situação reportada em jornal de circulação nacional mostra o retorno de executivos familiares à gestão dos negócios da família. Isso é bom ? Como tudo na vida, este movimento tem pontos positivos e outros que devem ser melhor observados. É sempre bom ter a família representada no negócio, após um movimento de profissionalização. Por outro lado, o familiar que se aproxima mais do negócio deve considerar que “as coisas mudaram” desde que deixou de trabalhar diretamente na gestão da Empresa. De toda forma, como sempre friso em meus comentários, é muito positivo que esteja havendo uma discussão de assuntos ligados aos negócios familiares pois, no bojo da discussão, novas perspectivas surgem no ambiente familiar e na Empresa propriamente dita.

Faça uma leitura detalhada do texto abaixo e reflita sobre a questão.
Boa leitura.

Crise traz herdeiros de volta à rotina diária

Ribeirão Preto (SP) e São Paulo, 10 de Dezembro de 2008 - O agravamento da crise no mercado financeiro internacional, que já reflete no setor produtivo, tem feito com que herdeiros de companhias que haviam repassado totalmente ou em parte o controle do dia-a-dia dos negócios a um profissional voltem a rotina das operações. Agora, diante da rápida mudança de um cenário de crescimento para um futuro incerto, as exigências são outras, dizem alguns empresários, que ressaltam a agilidade nas decisões como uma das vantagens do comando familiar.

No setor sucroalcooleiro, por exemplo, o executivo André Biagi foi obrigado nesta semana a acumular ao seu cargo de presidente do conselho de administração do grupo Santelisa Vale, segundo maior do setor, a função de presidente-executivo. "A escassez de crédito, combinada com a euforia e o excesso de investimento nos últimos anos, afetou de verdade o setor", avaliou Biagi. "A liberação de recursos minimizar. A crise externa já respingou por aqui", disse.

Biagi afirmou I não pretende permanecer na presidência. Para o lugar de Anselmo Lopes Rodrigues, que deixa a presidência-executiva da Santelisa -- transferido para a Companhia Nacional do Açúcar e do Álcool (CNAA), da qual a Santelisa Vale detém 27% do capital, em sociedade com fundos estrangeiros -, Biagi está à procura de um profissional "com perfil mais financeiro (do que administrativo), que é o que o momento exige." Segundo ele, "o setor e o grupo estão alavancados em dólar e bastante expostos" à moeda americana.

O empresário disse que, apesar dos fundamentos positivos, que sinalizam aumento dos preços do açúcar e do álcool, em um "futuro próximo", a cotação dessas commodities depende da abertura do mercado internacional, principalmente dos Estados Unidos e da Europa, e possivelmente o setor não possa contar com isto agora.

"Vivemos um momento de ressaca", afirmou Biagi. "É natural passarmos por um momento de acomodação", afirmou, referindo-se à provável entrada de dinheiro novo que deverá mudar a composição acionária de grupos do setor.

Na última sexta-feira também a construtora WTorre anunciou mudanças, Marco Antonio Bologna informou que deixará suas funções executivas no grupo no próximo dia 23, para "assumir novos desafios no início de 2009". A empresa informou a manutenção dos planos de profissionalização, entretanto, neste momento, os sócios da empresa, Walter Torre Júnior e Paulo Remy - assim como Biagi - assumem a direção integral da companhia. A empresa deixou de lado, pelo menos por enquanto, os planos de uma oferta pública de ações.

Quem também anunciou a volta ao comando da empresa foi a família Schincariol. Depois de uma série de problemas com a Justiça por acusação de sonegação fiscal - 60 funcionários chegaram a ser presos - a Schincariol decidiu, há cerca de dois anos, profissionalizar a gestão. Os familiares com posição na empresa, incluindo Adriano Schincariol - então presidente e filho do fundador, José Nelson, morto em 2003 -, deixaram os cargos e foram para o conselho de administração, enquanto executivos do mercado ocuparam espaço na segunda maior cervejaria do Brasil.

Fernando Terni, que fez carreira no mercado de telecomunicações e comandava a Nokia no Brasil, assumiu o comando do grupo em fevereiro do ano passado. Junto com Terni, chegaram a empresa o diretor de marketing Marcel Sacco, o diretor de Tecnologia da Informação, Álvaro Mello, e o diretor de recursos humanos, Marcos Cominato.

No entanto, o processo de profissionalização do grupo durou pouco. Durante o período, os executivos comandaram uma série de aquisições - cervejarias Nobel, Devassa e Eisenbahn, por exemplo - e lançamentos como o da linha de sucos Fruthos. Agora, menos de dois anos após o início da gestão de Terni, a família volta ao comando do grupo. Adriano reassumirá a presidência-executiva e seu primo, Gilberto Schincariol Júnior, ficará com a vice-presidência de operações.
Em comunicado, a empresa afirmou que a retomada do controle se deu por conta do agravamento da crise financeira internacional. "Resolvemos estar mais próximos do dia-a-dia dos negócios. Só nós podemos nos responsabilizar por uma gestão mais expedita, mais rápida", disse Adriano, no comunicado.

O irmão de Adriano, Alexandre, e o primo, José Augusto, permanecerão no Conselho de Administração, presidido por Fernando Mitri, ex-presidente da IBM.

Furlan volta a operação

Para resgatar a Sadia do escândalo financeiro que resultou em perdas de R$ 653 milhões com contratos de derivativos, Luiz Fernando Furlan, sócio da empresa e neto do fundador, Atílio Fontana, resolveu voltar à empresa, após seis anos de afastamento. Assim, em 6 de outubro deste ano assumiu o cargo de presidente do Conselho de Administração, no lugar de Walter Fontana Filho, primo de Furlan e que ocupava o cargo desde 2005. Deixaram a companhia também o diretor e o gerente da área financeira.

Desde então, a empresa vem reduzindo a exposição líquida a contratos de derivativos cambiais do patamar de US$ 2,4 bilhões do início de outubro para atuais US$ 678 milhões. Em entrevista sobre sua volta à empresa, Furlan disse que a Sadia retornaria às suas origens de empresa de alimentos, referindo-se às operações especulativas feitas na administração anterior e que, segundo a empresa, foram feitas sem o conhecimento de seu antecessor, Walter Fontana Filho.
Já no grupo Pão de Açúcar por duas vezes o empresário Abílio Diniz recorreu a própria experiência para melhorar o desempenho da companhia. No final do ano passado, quando Cláudio Galeazzi assumiu a presidência do Grupo Pão de Açúcar, no lugar de Cássio Casseb, Diniz deixou claras as regras de comando da empresa. "Já combinei com o Cláudio (Galeazzi): ele tem liberdade de tudo, exceto se for proposta alguma coisa que me contrarie totalmente, que eu insista que é um erro. Quando isso acontecer, o Cláudio, e todo o time (diretoria executiva), terá que me provar que eu estou errado", afirmou Diniz à época.

Essa foi a segunda vez que Diniz recorreu à sua própria experiência para recuperar a companhia. No final da década de 1980, quando o País entrou em crise com o endividamento externo, o grupo Pão de Açúcar também teve que fazer ajustes para evitar que a dívida o levasse à insolvência. Na época, 400 lojas da rede foram fechadas.

Diniz assumiu o controle, trocou toda a administração e iniciou o processo de recuperação. Nos anos seguintes a varejista abriu capital e firmou parceria estratégica com a francesa Casino.
Dessa vez, no entanto, a idéia é que a intervenção atual seja breve. Até 2010 deve ser formado um sucessor, que sairá de dentro do Pão de Açúcar.

Gazeta Mercantil – Brasil – 10/12/2008 – Pág. A8

Um comentário:

  1. A presença dos empreendedores e sua família na gestão deve ser medida contra o preparo e a presença dos skills necessários para a Gestão bem sucedida. As características de empreendedorismo, notoriamente presentes naqueles que criaram e fizeram crescer empresas, não são necessariamente as mesmas da gestão necessária, quando a empresa atinge determinado patamar de tamanho e presença no mercado.
    Nos exemplos acima, de empresas grandes, há esse preparo. Já nas médias e pequenas, o panorama muda.

    ResponderExcluir



MacroTransição
Rua Dr. Guilherme Bannitz, 126 – cj. 21 - CEP 04532-060
Itaim Bibi – São Paulo